Programação religiosa é campeã e o Estado diz amém.
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Pois bem, isso mudou.
Segundo levantamento da Ancine, o gênero campeão de audiência nas grades de programação da televisão brasileira é o religioso.
Nunca é demais lembrar a Constituição:
Art.
221 - A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão
atenderão aos seguintes princípios:
I -
preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II - promoção
da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua
divulgação;
III -
regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais
estabelecidos em lei;
IV - respeito
aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
Onde as missas e os cultos se encaixam mesmo? Não têm finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas, apenas a reafirmação de dogmas. Definitivamente nada tem com promoção cultural ou estímulo a produção independente e regional. E, no mínimo, os católicos podem dizer que os cultos evangélicos não respeitam seus valores éticos e sociais. Assim como os evangélicos podem dizer o mesmo dos católicos. Se colocar na conta, então, os umbandistas, os agnósticos e todos os tons de cinza das crenças pelo país...
Emissoras de televisão e rádio são concessões públicas. Como hospitais, escolas e linhas de ônibus que o Estado autoriza (outorga) para que segmentos privados façam os serviços que, pela Constituição, são a sua obrigação e/ou de sua autoridade regular e fiscalizar.
Imagine uma igreja ou qualquer comunidade religiosa reservando - e pagando para os detentores da outorga - para uso exclusivo de seus crentes? Hospitais destinando leitos no SUS, escolas separando cadeiras por dogmas e horários de ônibus onde o passageiro só entra com crucifixo? É inadmissível, certo? Um apartheid religioso nas concessões públicas.
Imagine uma igreja ou qualquer comunidade religiosa reservando - e pagando para os detentores da outorga - para uso exclusivo de seus crentes? Hospitais destinando leitos no SUS, escolas separando cadeiras por dogmas e horários de ônibus onde o passageiro só entra com crucifixo? É inadmissível, certo? Um apartheid religioso nas concessões públicas.
Bom, não o é para as emissoras de televisão e rádio. E com isso muda-se até as suas características mais elementares.
Daí essa confusão - deliberada pelos detentores do poder midiático - sobre controle social da mídia. Confundem censura com administração pública. Na minha opinião (que só representa a mim, pois está longe de ser uma unanimidade), certamente o conteúdo não é suscetível a tal controle. Da mesma maneira que não se pergunta quem deita no leito, quem frequenta a escola ou quem pega o ônibus, pois é direito de todos. Se houver desrespeito a lei, isso é uma questão judicial, a posteriori. Mas a gestão da concessão e o seu respeito aos preceitos constitucionais, aí sim, o Estado teria a obrigação de regular e fiscalizar.
Ok, é um sonho, com o Congresso e o Executivo sendo, eles mesmos, formados de donos das emissoras e/ou deixados levar pelas pressões dos demais, e em parceria com um Judiciário ausente.
Mas a gente continua esperneando.
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