"Meu filho é tão inteligente..."
Calvin & Haroldo, por Bill Watterson. Conrad Editora |
Ponderado, traz os dados de uma pesquisa que, no nosso ponto de vista, é questionável, mas que vale a discussão.
Primeiro: inteligência não é uma habilidade que uns têm e outros não. Todos somos inteligentes.
Haja vista que toda mãe, em algum momento, já disse "meu/minha filho/filha é muito inteligente".
Portanto, de acordo com Brenner quando diz que rotular nunca é exatamente uma boa coisa. Nós somos muito dinâmicos, criativos, flexíveis para ficar sempre na mesma caixinha.
É certo dizer que uma criança é boa de bola ou tem facilidade com operações matemáticas. Isso são habilidades e realmente acredito que, geneticamente, podemos ter uma predisposição para algumas delas, conforme a configuração original de nossas células cerebrais.
Por outro lado, por ser habilidades, podem ser aprendidas e apreendidas, treinadas e consolidadas. Assim como, se determinadas habilidades inatas não passarem pelo mesmo processo serão sublimadas e jamais saberemos se e quando perdemos um novo Pelé ou um Santos Dumont.
Mas jamais posso dizer que uma criança é mais ou menos inteligente.
Ok, mas o pai ou mãe dizer que o seu filho é inteligente é muito mais legal do que dizer que ele é habilidoso. Isso é reflexo de que, geralmente, os adultos minimizam a habilidade. E, pior, direcionam as habilidades, com elogios ou deméritos, conforme suas próprias convicções. O resultado mais nefasto disso é que quando os pais dizem coisas como "aqui em casa ninguém gosta de matemática (ou de ler)". Passam o recado para a criança que, para ela ser aceita naquele grupo, precisa não gostar de matemática (ou de ler). E depois deitam falação para os professores de como as notas em matemática (ou português) não melhoram!
Entenda: crianças fazem provas para os adultos que querem impressionar. Não para a escola.
A pesquisa apontada na reportagem tem um outro problema. Pesquisa quantitativa para a área de educação é dose! No meu ponto de vista, essa aí é totalmente equivocada. Não dá para colocar em números uma relação tão complexa como a aprendizagem. Naquele caso, no máximo é um retrato momentâneo de 400 crianças do Brooklyn, em Nova York. Querer espelhar isso para as crianças do mundo é típica pretensão behaviorista das pesquisas comportamentais norte-americanas da primeira metade do Séc. XX.
De qualquer forma, tudo isso me lembra aquele parente das antigas que acha que elogiar demais a criança faz com que ela fique mole ou vire gay... E me lembra também as tirinhas do Calvin e Harold, onde o pai do Calvin se orgulhava dos apertos do filho pois ajudava a "construir o caráter".
Como tudo na vida, é preciso equilíbrio. Pode elogiar muito, desde que corrigir deve ter uma proporção. Mas, antes de tudo, deve-se levar em conta a motivação do gesto. Se for para orientar, instruir, acolher, acalentar, não importa se é um elogio ou um xingamento. A criança saberá a motivação e, na realidade, é tudo isso que lhe importa.
Calvin & Haroldo, por Bill Watterson. Conrad Editora |
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