Com fim gradual de sinal analógico, saiba o que fazer para usar TV digital
Nesta extensa e detalhada reportagem da UOL, já se percebe as movimentações para o desligamento nacional da TV analógica no Brasil. O repórter Guilherme Tagiaroli fez as perguntas que se deve fazer, mas não necessariamente colheu as respostas que eu, imagino, deveria ter. Assim, a cada resposta meio oficiosa, dou meus pitacos...
Por Guilherme Tagiaroli - Do UOL - 01/06/2015
A partir de 2016, várias regiões metropolitanas do país terão o sinal de TV analógico desligado.
A transmissão do sinal de TV digital começou em 2007 no Brasil. Agora, está cada vez mais próximo o prazo de desligamento total do sinal analógico. A data limite é no fim de 2018, porém o cronograma da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) estabelece datas de desligamento já em 2016 para cidades grandes, como São Paulo, por exemplo.
Baseado na proximidade do fim do sinal analógico, o UOL Tecnologia consultou especialistas para responder a perguntas sobre o tema, ressaltando o que vai mudar para os telespectadores de TV aberta e qual a importância disso:
Por que vão desligar o sinal de TV analógico?
A razão do fim de transmissão analógica é que esse espectro de frequências será usado por operadoras para aumentar a oferta de redes 4G na faixa de 700 MHz. Atualmente, o 4G está disponível apenas na faixa de 2,5 GHz.
Na realidade, quando se começou a pensar sobre TV Digital no Brasil, há cerca de 15 anos, nem existia telefonia celular direito, ainda mais 4G! A mudança da TV Digital já acontecia pelo mundo e era inevitável, uma vez que era a primeira evolução tecnológica sobre a TV, o meio de comunicação de massa mais popular do planeta. Não era para liberar espectro e sim otimizá-lo, haja vista o desperdício da tecnologia analógica (que precisa usar duas a três faixas para transmitir um canal) e a consequente limitação das próprias emissoras em crescer com novos canais. Era também para movimentar esse mercado que, mesmo praticamente onipresente por todo o planeta, estava um tanto estagnado. Para isso, mudando a tecnologia, muda-se toda a cadeia do negócio. Imagine quanto custaria mudar TODAS as televisões do planeta, mais as antenas, o parque tecnológico de transmissão de cada uma das emissoras e cidades. Além disso, criar ainda mais canais de televisão, à reboque das atuais emissoras, criaria-se mais espaços comerciais para comercialização.
As telefônicas é que entraram como um rolo compressor sobre a oportunidade e tomaram de assalto a liberação do espectro e, pela primeira vez na história, os radiodifusores tremeram e foram suplantados politicamente por empresas estrangeiras muito, mas muito maiores do que elas. A faixa de 700 MHz, por exemplo, estava prevista para que continuasse, inicialmente, com as emissoras de TV tradicionais, depois foi reservada para as TVs públicas e, após muita pressão eficiente, foi dada às telefonias para o 4G.
Quando vão desligar o sinal analógico na minha cidade?
O Ministério das Comunicações tem um cronograma detalhando quando o sinal analógico deve ser desligado.
A título de curiosidade, a primeira cidade vai ser Rio Verde (GO), no dia 29 de novembro deste ano. Na sequência, vêm o Distrito Federal e cidades adjacentes (3.abr.2016), São Paulo (15.mai.2016), Belo Horizonte (26.jun.2016), Goiânia (28.ago.2016) e Rio de Janeiro (27.nov.2016).
No restante das cidades, ocorrerá entre 2017 e o final de 2018.
Essa eu quero ver! A TV Digital está longe de ter "pegado" no Brasil e é praticamente desconhecida. Além de pouquíssimas pessoas saberem sobre ela e, consequentemente, nem se interessar pelo assunto, mais da metade (54,5%) das casas brasileiras ainda tinha TV de tubo em 2013, de acordo com o Pnad - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE. Para essas televisões, será necessário comprar um equipamento especial para receber o sinal digital, e não tenho visto promoção nas Casas Bahia! Imagine tirar as novelas da Globo de um dia para o outro! Pelo interior do país, isso depõe um prefeito! Quem, geralmente, administra as torres de TV são as prefeituras e todo prefeito sabe que o buraco da rua dá para enrolar um bom tempo, mas se não tiver o sinal da TV, os telefones do gabinete não vão parar de tocar com eleitores possessos.
Mas tudo pode dar certo, se contarmos com o caso de amor passional que o brasileiro tem por duas práticas de consumo: a de incorporar novas tecnologias e a de deixar tudo para a última hora. Essa hipótese tem vários problemas: haverá equipamentos decodificadores suficientes? Haverá distribuição pelo país desses decodificadores? Terão preço adequado, ainda mais no aperto financeiro com que andam as famílias? Há equipes de manutenção formadas pelo país para os retransmissores (porque, no analógico, qualquer bom eletricista consegue fazer uma 'gambiarra')? Me dá a impressão que a transição será feita a partir de outra prática de consumo em que somos especialistas: vamos ver se cola!
Pode dar certo, mas pode dar muito errado. Para os praticantes das teorias de conspiração, temos o exemplo de Portugal sobre o desligamento da TV analógica, algo que já escrevi aqui. Não estaremos indo para a privatização de uma outorga pública, como acontece com as estradas? É o que aconteceria em caso da TV Digital não 'pegar' e, para assistir TV teríamos de ter uma TV por assinatura. Eu não era tão catastrófico assim, mas o exemplo de Portugal (somado ao dos EUA ainda no tempo da TV a cabo), me deixa com um pixel atrás da orelha.
O que eu ganho mudando para o sinal digital?
A vantagem é a qualidade de imagem, que é transmitida em alta definição. Em termos práticos, a imagem terá o dobro de definição e muito mais brilho.
No sinal analógico, as imagens chegavam com definição "standard" (704 x 480 pixels), enquanto o padrão de TV digital brasileiro transmite com definição de 1.080 x 720 pixels.
Outra falácia: de fato, a melhoria de sinal é a mais vistosa mudança. No entanto, no Decreto 4.901, de 2003, que instituía a TV Digital - um decreto que era fruto de um debate democrático e que foi atropelado posteriormente - logo nos seus três objetivos iniciais entendia que a nova tecnologia deveria 1) "promover a inclusão social, a diversidade cultural do País e a língua
pátria por meio do acesso à tecnologia digital, visando à democratização da
informação; 2) "propiciar a criação de rede universal de educação à distância" e 3) "estimular a pesquisa e o desenvolvimento e propiciar a expansão de
tecnologias brasileiras e da indústria nacional relacionadas à tecnologia de
informação e comunicação.". Ou seja, a melhora da qualidade da imagem era apenas uma das novas possibilidades.
O digitalização permite multiprogramação, ou seja, um canal pode ter quatro a cinco novos canais. Na pior das possibilidades, as emissoras tradicionais poderiam, como no caso da BBC inglesa, ter os canais BBC 1, BBC 2 etc, segmentado por publico ou conteúdo e aumentado a oferta ao telespectador. Na melhor das hipóteses, abrir novos canais de televisão, regionais e locais, comerciais, públicos e educativos.
A outra inovação da tecnologia seria a interatividade, utilizando os canais para multiusos, para tráfego de dados entre telespectadores e empresas públicas e privadas, uma oportunidade hoje relegada, não coincidentemente, às telefônicas.
Não tenho a menor ideia se recebo sinal digital. Como faço para saber?
Com a proximidade do desligamento do sinal analógico, as emissoras passarão a mostrar algum sinal informando isso. Algumas mostrarão um "A" (de analógico) ou exibirão uma mensagem mostrando que o sinal é analógico.
Uma outra ideia é pedir emprestado o smartphone do amigo que tenha embutido a TV Digital. Ele faz a varredura para saber quais os sinais estão disponíveis. Aproveite e "usufrua" um dos poucos - mas decisivo - problemas tecnológicos da TV Digital: ao contrário da TV analógica que, quando o sinal não é bom, no mínimo, você verá chuviscos e chiados, na TV Digital o lema é "ou pega, ou não pega", sem os meios termos da TV atual. Troca-se chuvisco por tela congelada. Assim, fica fácil saber se recebe ou não a TV Digital!
Como sei se minha cidade está coberta por sinal digital?
A maioria das grandes cidades já conta com sinal digital, sobretudo as que devem ter o sinal analógico desligado ainda em 2016. É possível consultar se um município está coberto no site http://dtv.org.br/index.php/cobertura.
Boa sorte para todos nós que gostamos de TV aberta, gratuita.
Como sei se minha emissora preferida já está disponível na minha cidade?
Não há um levantamento sobre isso. Essa informação, segundo Roberto Franco, presidente do Fórum SBTVD, associação de entidades em prol da pesquisa sobre TV digital aberta, ainda está sendo levantada pelo EAD (entidade responsável pela gestão do processo de migração entre o sinal analógico e a implementação da TV Digital).
No entanto, as principais emissoras já oferecem esse tipo de transmissão, pois é de interesse delas. "Se ela não cobrir a mesma área da cobertura analógica, o canal vai perder audiência e publicidade", explica Luis Roberto Antonik, diretor geral da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).
Falta explicar o que será feito com as pequenas emissoras de TV do interior. Certamente não fizeram, em grande parte, sua transposição para o digital, haja vista o grande custo para isso. Com o desligamento, simplesmente deixam de existir e, com isso, some a TV local. A favorita do cidadão que quer saber o que acontece na sua cidade, e não em São Paulo, Rio e Nova York.
Como faço para receber sinal digital?
É necessário ter uma antena que recepciona esse tipo de sinal e um televisor com conversor embutido. Quem não tem um conversor digital embutido na TV deve comprar um.
Não é uma opção. Quem não tiver, ou fica sem TV, ou vai para a TV paga. Ótimo negócio, menos para os telespectadores.
Como sei se minha TV aceita sinal digital?
Desde 2010, todos os televisores com tela de 32 polegadas ou mais já vêm com conversor digital integrado. Para os fabricados em 2011, a regra do governo abrange TVs com tela igual ou maior a 26 polegadas.
Além disso, os aparelhos que contam com conversor integrado têm a indicação "DTV" na própria TV, na caixa ou no manual.
Outra notícia que se esquece: a interatividade, uma das inovações da TV Digital, precisa de um sistema incorporado na TV. No Brasil, esse sistema chama-se Ginga e há uma legislação que obriga aos fabricantes das TVs e dos aparelhos decodificadores a sua incorporação. É uma espécie de 'Windows' ou 'Linux' do aparelho. Portanto, uma outra pergunta é: o meu equipamento tem Ginga? Porque, se não tiver, já ficou ultrapassado. E tenho quase certeza que são pouco os que têm, e os que têm, são inacessíveis ao cidadão comum.
Tenho uma TV antiga e que não tem um conversor embutido. O que devo fazer para assistir aos canais abertos com o desligamento do sinal analógico?
Caso não queira comprar um aparelho novo, é necessário ter um conversor e uma antena UHF – ambos os itens são encontrados em varejistas. O primeiro é encontrado no mercado por cerca de R$ 150 (muitos modelos têm funções adicionais, como gravador digital).
Ao adquirir uma antena, o consumidor tem duas opções: interna ou externa. A primeira é encontrada por até R$ 80 em varejistas e é recomendada para locais com forte sinal de TV digital. Já a segunda é para quem mora em locais com acesso instável e custa até R$ 300.
Há antenas passivas (que não necessitam ligar na tomada) e antenas ativas (que são ligadas a energia elétrica), que costumam ser mais caras e apresentam desempenho superior.
Acho que tenho passeado nos shoppings errados! Não tenho visto essa tal oferta de equipamento. Além disso, quem vai instalar? O técnico da TV paga, como o próprio nome diz, é pago para isso. E no caso da TV Digital, o técnico da Globo vai lá em casa?
Há antenas de sinal digital internas e externas. Qual devo escolher?
A preferência é comprar uma antena externa, pois é mais robusta para recepção de sinal, segundo Roberto Franco, do Fórum SBTVD.
Segundo ele, os sistemas de transmissão de sinal de TV pelo mundo sempre são baseados na recepção em antena externa. Porém o padrão brasileiro é robusto e uma antena interna pode resolver – no caso de pessoas que vivem em áreas com sinal robusto.
É importante ter uma boa recepção de sinal para não ter problemas. "Na recepção analógica, quando há algum obstáculo, o sinal começa a degradar e ocorre o chuvisco. Já no digital, ou aparece a imagem ou não aparece nada", explica Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.
É só fazer um teste em Ouro Preto/MG: se com todas as interferências, geológicas como atividade mineral, morros e grotas, equipamentos urbanos, falta de legislação, dinheiro e lugares para se colocar retransmissores, se suplantadas todas as dificuldades e a população desta cidade famosa, apenas distante 100 km da capital Belo Horizonte, conseguir ver sua TV Digital, vai dar certo. Depois resta apenas todas as cidades do interior e suas peculiaridades, físicas e humanas.
Tenho uma TV que veio com conversor embutido. Como faço para ver TV digital?
Nesse caso, basta ter uma antena interna ou externa para receber o sinal e sintonizar o aparelho.
Quem dera fosse fácil como colocar aqueles fiozinhos que a gente colocava atrás da TV analógica! O que liga a antena na TV é um cabo coaxial, ou um RCA? Em qual daquele mundo de conexões atrás da TV eu encaixo? Onde está no menu do controle remoto (aquele que parece um painel de avião) a configuração dos canais digitais? Como fazer essa configuração? Pode parecer simples para o filho nerd, mas e a D. Maria que acabou de trocar a sua TV de tubo?
Tenho TV, mas não tenho dinheiro para um dispositivo novo ou um conversor. Como faço para assistir à TV digital?
O governo estabelece que beneficiários do programa Bolsa Família terão direito a um kit gratuito com conversor, antena de controle remoto. De acordo com Luis Roberto Antonik, diretor-geral da Abert, a distribuição será comandada pelo EAD.
Ainda não há detalhes de como será a distribuição desses equipamentos. Próximo ao desligamento do sinal analógico, deve haver campanhas específicas para conscientizar os beneficiários do programa.
Está no corte orçamentário? Como o governo irá justificar a distribuição de 'kits TV' quando corta benefícios sociais?
Tenho TV digital, mas a imagem não ocupa toda a área da tela. Por que ocorre isso?
Isso ocorre porque há conteúdos antigos mostrados na TV aberta que foram captados no padrão antigo. Por essa razão, há programas antigos que ocupam, por exemplo, apenas a parte central da tela.
Bem, em relação a todos as questões apresentadas, fico até constrangido em comentar esse enorme problema... o que, por sinal, pode ser um problema de configuração da TV. Pobre D. Maria...
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