20 anos de Wikipédia: a vitória da ciência colaborativa

Imagem: en.wikipedia.org

Acabei de fazer minha doação ao Wikipedia. Ora, se utilizo de um serviço, nada mais justo do que pagar por ele. Mas, ao contrário do Google e Facebook, para quem pago generosamente com meus dados mais íntimos, a cultura wiki costuma ser humilde, discreta, o que exige da gente que tenhamos a iniciativa de dar grana mesmo (embora tenha sido lembrado, corretamente, pelo site dessa minha necessidade). O mais importante a se comemorar nos 20 anos do Wikipédia é a consolidação da colaboração anônima como fonte da ciência.

E a maior enciclopédia humana ainda aprendeu e amadureceu, tendo bilhões de consultas, com outros milhares de colaboradores anônimos. Do contrário, a imagem mental que me ocorre são milhões de pessoas folheando a Barsa, outros tantos especialistas renovando seus verbetes, algo totalmente impossível no mundo físico, tanto para aqueles que precisam do Conhecimento, como para aqueles que o produz. Na versão portuguesa do Wikipedia, entre os cerca de 300 idiomas onde tem páginas, já são mais de um milhão de artigos com mais de 10 mil editores ativos. É ou não é uma beleza da cooperação humana?

O Wikipedia é mais um produto desta internet, essa mesma fruto da cultura wiki onde milhares de colaboradores voluntários, desconhecidos e que tem como motivação a participação no crescimento de uma ideia libertadora - e não a recompensa financeira, desbancando uma visão puramente capitalista do ser humano. Embora poucos ganhem muito, mas muito dinheiro com a internet, milhares ainda continuam acreditando que sua colaboração anônima e voluntária. Mas que seja no Wikipédia, no Linux, no Firefox, eles veem motivo para se levantar da cama e abrir seu computador, passando horas no aperfeiçoamento de uma ferramenta que será útil para outros milhões de anônimos.

Não que colaboração anônima seja algo novo. É certo que a ciência deve muito aos pioneiros desconhecidos que construíram as bases para que os cientistas geniais (e com traquejo em autopromoção) pudessem amalgamar e dar visibilidade aos avanços científicos. Mas o Wikipédia retorna às origens da ideia da enciclopédia, ao contrário da percepção elitista com as estantes decoradas. Seu objetivo primordial era de difundir o conhecimento de maneira mais ampla possível, para libertar o homem da prisão da ignorância.

Essa visão iluminista, ainda do Século das Luzes (Séc. XVIII), também contava com duas características que as futuras versões das enciclopédias estáticas foram perdendo:  a de que se tratava do conhecimento até então e, portanto, passível de mudanças constantes, sempre acrescentáveis de avanços de novas descobertas; e que é impossível apenas poucos saberem tanto e, portanto, a enciclopédia deveria ser feita por muitos colaboradores.

A primeira enciclopédia, editada por  Denis Diderot e Jean le Rond d’Alembert, iniciou-se com 150 colaboradores, cientistas reconhecidos na época, com 60 permanecendo anônimos. Posteriormente, ampliou-se o número de colaboradores sem renome, ainda mais que os renomados começaram a brigar entre si, como de costume. Afinal, nessa história não faltaram dramas a partir de visões opostas, nem poderosas forças contrárias querendo desqualificar a enciclopédia que pretendia ser universal e permanentemente referencial e mutante.

A Wikipedia foi, e continua sendo, ainda muito rejeitada pelos professores como fonte de pesquisa. Sabendo disso, a enciclopédia corrigiu, ao longo dos anos, a checagem dos dados e hoje percebe-se uma preocupação forte, tanto dos seus gestores como dos colaboradores, de atualizar as eventuais bobagens que alguém possa colocar. No entanto, sempre pode haver um hiato entre uma atualização equivocada e a sua correção.

Mas, por conta desses aperfeiçoamentos, cresce o número daquela/es que, como eu, incentivam que se utilize o Wikipedia como pesquisa exploratória, para indicar primeiras referências e informações que serão checados em novas investigações.  Ainda é feio utilizar como referência nos trabalhos acadêmicos. No entanto, se cientes dessa possibilidade de acessar uma informação equivocada e, portanto, utilizando o Wikipedia como uma introdução à pesquisa, ainda mais que ela cita as suas várias fontes, é hoje um instrumento fundamental de divulgação científica.

Jimmy Wales, o fundador da Wikipedia (junto com Larry Sanger): “Não há nada de errado com o comércio e com a publicidade. No entanto, eles não têm lugar aqui na Wikipédia. A Wikipédia é qualquer coisa de especial. É semelhante a uma biblioteca ou um jardim público. É como um templo para a mente. É um lugar a que todos podemos aceder para pensar, aprender e partilhar o nosso conhecimento com outras pessoas. Quando fundei a Wikipédia, podia tê-la transformado numa empresa lucrativa com anúncios comerciais, mas decidi fazer uma coisa diferente. Temos trabalhado arduamente ao longo dos anos de forma a mantê-la isenta e livre”.

E de exemplo do altruísmo humano. Prosperidade à Wikipédia e a cultura Wiki! E, podendo, doe também! E doei R$ 20,00, menos que uma revistinha do Homem-Aranha, aquele do ‘grandes poderes, grandes responsabilidades’. E quer responsabilidade maior do que a difusão do Conhecimento Humano?

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