Que tal um robô erótico de Natal em 2017?

Acredite: ela é artificial e feita apenas para dar prazer. Crédito: Realdoll

Quem acompanha ficção-científica sabe que um dos maiores fetiches dos aficionados é o desejo da existência de robôs sexuais, que fossem construídos unicamente para satisfazer nossas lascívias. Suas representações são clássicas, tanto na literatura quanto no cinema, mas ainda estavam no plano da imaginação. Pois seus problemas acabaram: conforme recentes notícias, poderemos pedir para o Papai Noel, já no ano que vem, um robô erótico, da melhor qualidade, que deixará as tradicionais, mas deprimentes, bonecas-infláveis em paz (finalmente).

Não é piada e nem algo menor, inclusive (ou principalmente) pelo aspecto econômico. Os Sexbots, como estão sendo chamados os robôs com finalidade erótica, já são uma realidade e, desconfio, já abastecem  vários closes secretos de endinheirados. A novidade aqui é que, como toda tecnologia complexa e cara, está avançando para o próximo passo no seu ciclo de vida de produto. Passou de sua fase de experimentação e introdução e agora segue para o crescimento e maximização tecnológica. Ou seja, deixa de ser oferecida para o segmento milionário e segue para o shopping, tipo sair da alta costura para o prêt-a-porter.

Mas como se trata de sexo propriamente dito e não apenas das lingeries, o que se fala desse movimento dos sexbots no mercado, digamos, mundano, é cercado de dimensões que nos faz parecer que estamos debatendo sobre a concepção da humanidade, e não de mais um produto na prateleira. Fica-se pisando em ovos, será que as pessoas vão rir e, assim, se entregar, ou vão se envergonhar e se indignar, vão criticar ou se excitar, quais as consequências para a manutenção da sacra família, os aspectos éticos... O resultado de todas essas dúvidas é, mais uma vez, comprovarmos como somos mal resolvidos quando essa palavrinha de quatro letras, sexo, é introduzida na conversa.

Na minha opinião, nem há muito o que pensar. É um produto tecnológico como outro qualquer que, como todos os demais, vem atender algum, ou a junção de vários, de nossos desejos. O aparato tecnológico é uma extensão de uma habilidade da qual não damos conta de fazer como nossos próprios recursos natos. Nós podíamos comer, ou matar o outro, com nossas próprias mãos. Mas a criação de um objeto de corte, a pedra lascada e sua descendente, a faca, tornou a tarefa mais eficiente.

No caso do sexo, que atende um conjunto de necessidades que vai além da sobrevivência (afetos, estima, poder), mesmo que possamos tentar nos satisfazer com nossas próprias mãos (ops!), é preciso a figura colaborativa do outro. O que, convenhamos, na maior parte das vezes, tem uma relação de custo e benefício, de sentimentos e razões, raramente sintonizados com nosso atual momento e do outro. São nesses dilemas que surge uma boa parte da tecnologia.

Não há nada de novo nos sexbots que o caminhar natural do desenvolvimento tecnológico. Eles nada mais são do que a sofisticação das popularíssimas bonecas-inflaveis e demais aparatos vendidos nos sex-shops, um segmento que, como sabemos, não vê crise. Portanto, nada de falso pudor. A tecnologia eletrônica, nas últimas décadas, avançou fortemente, tendo a internet como sua principal expoente. E como ficou a indústria do sexo neste contexto? Ora, acompanhou como sempre acompanhou a humanidade em todos os seus sentidos, dando tanto quanto queríamos: por exemplo, o maior consumo de conteúdo na rede em todo o planeta é o de videos eróticos, superando, em muito, quaisquer NetFlix e Amazon por aí. Novos negócios como câmeras ao vivo, chats eróticos, sites de oferta de programas sexuais, redes sociais de encontros pudicos ou clandestinos, uma infinidade de oportunidades sexuais do tamanho da imaginação humana. E aqui só tratando daquelas atividades mais ou menos aceitas legal ou socialmente. Se pensarmos na internet profunda, e no que há de mais vil na humanidade, como a pedofilia e a exploração sexual, a lista então fica ainda mais complexa.

Mas, como sexo também pode ser tudo de bom, portanto, nada mais natural no mundo dos negócios tecnológicos do que dar sofisticação no robô da fábrica de carros para se transformar no amante complacente. De acordo com a moral de cada um, pode-se ir do "infelizmente" para o "que maravilha!". Provavelmente, no entanto, continuaremos a tratar da temática à boca pequena, embora não vá faltar quem vai se orgulhar de mostrar sua nova aquisição como uma conquista, assim como se faz com o novo carro ou smartphone. Ou o amante ocasional da balada.

O que não acredito é em algumas suposições de que haverá um sentimento de que fomos "longe demais", de que as pessoas se recusarão a ter relações sexuais com robôs por uma, sei lá, moral embutida no inconsciente coletivo humano. Bobagem. Como diz aquela propaganda de tratamento terapêutico, "sexo é vida" e o buscamos de forma intensa e, em boa parte, insensata. Duas das principais motivações - intensidade e insensatez - que condicionaram a maioria dos avanços tecnológicos, como os aparelhos de guerra e a viagem ao espaço. Fecha-se o ciclo da demanda e da oferta, que costuma deixar as moralidades humanas um pouco de lado.

Os sexbots, no que tange a sua essência, o sexo em si, têm vantagens fabulosas: além da questão econômica financeira, dado que a manutenção de um relacionamento humano transforma o ato sexual em algo totalmente desproporcional nos quesitos custo-benefício e de tempo-usufruto, há a economia emocional, já que não é preciso se (pre)ocupar com satisfação do outro, com negociar afetos, estimas e relação de poder, e nem com sua própria consciência pesada, tanto em relação aos valores familiares como com as questões morais envolvendo a prostituição.

Ok, "puxa, que triste, seremos também robôs", dirão alguns. Mas, olhemos em torno, já não o somos em outras circunstâncias, apenas reagindo em nosso cotidiano, a partir de uma lista de comportamentos pré determinados pela sociedade, que se aproxima muito de uma programação estabelecida por um programador que não somos nós? Atenção, isso, à princípio, não é um problema, é uma economia que nos deixa mais tempo e espaço para outras coisas, como criatividade e criação de novas relações, sociais ou não. Já estamos dentro de uma espécie de sistema operacional que nos é muito útil, onde abrimos mão da operacionalidade básica e chata da vida e podemos nos dedicar ao desenvolvimento enquanto ser e no sentido de mais ter. O problema, na realidade, é quando o sistema operacional se torna a própria vida e, aí, bem, o problema é do uso do sistema operacional, e não ele em si. Como um robô, ele apenas atende nossos desejos. Assim como pretendem os criadores dos sexbots. Portanto, o negócio é usar com moderação. Como tudo na vida.

Ah, e também tem a questão da ética com os próprios robôs, outra mantra da ficção-científica. Esse pensamento atrai e trai nossa outra necessidade, a de antropomorfismo, a de atribuir aspectos humanos a animais e objetos inanimados, como quando colocamos nomes e comportamentos no nosso carro. Ou seja, como os robôs se sentirão sendo tão vilmente utilizados pelo homem? Bem, daí é uma discussão filosófica-tecnológica-robótica que deixamos para mais tarde. Um bom 2017, mais real.

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