Super Bowl e Desfile das Escolas de Samba é TV na veia!

Desfile das Escolas de Samba e Super Bowl 2016. Créditos: G1 e NLF
Uma feliz coincidência que a final do mais caro evento televisionado mundial tenha acontecido ao mesmo tempo que o maior espetáculo de carnaval do planeta. Dava para acompanhar os dois, com um simples toque no controle. E perceber que tudo aquilo só era possível por conta da televisão, essa "moribunda" que não morre.

O Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano, e o Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro são o passado, o presente e o futuro da TV. São daqueles produtos que explicitam o que a televisão faz de melhor, inserir a audiência dentro do evento, que acontece agora, do qual não se tem controle e nos coloca na posição real do que somos, um assistente do que acontece, e não o seu protagonista, como nos iludimos com o excesso de suposta interatividade.

Mas, mesmo relegados a nossa condição de audiência passiva (no sentido de comandar o roteiro, não de dar sentido ao que está acontecendo), a TV é generosa e nos dá várias visões imediatas do mesmo tema: a cena aberta, mas também o detalhe; a emoção do rosto transfigurado do personagem principal (o jogador que erra e a passista que samba), mas a reação do coadjuvante (o técnico que comemora e a plateia que acompanha da Sapucaí).

É TV na veia, e agora em todos os lugares. O primeiro Super Bowl só podia se acompanhado de três maneiras: ou você via pessoalmente, no estádio, ou escutava pelo rádio ou via pela TV. Os Desfiles, por sua vez, só indo mesmo na rua. Graças às transmissões de TV, hoje se assiste nos mais variados dispositivos, dos gratuitos aos pagos, das telas grandes de cinema (sim, houve salas de cinema pelo Brasil que transmitiram a final do campeonato), aos celulares, tablets, PCs e GPS dos carros. A própria emissora norte-americana liberou, gratuitamente, o sinal para a internet. Mas, destaca-se, ainda é TV, e tudo começa dentro de uma emissora broadcasting.

Cada comercial dentro do Super Bowl custou cerca de R$ 18 milhões de reais. O Netflix precisa, aqui no Brasil, de cerca de 860 mil assinantes para conseguir isso em um mês. A emissora só precisou de um cliente e 30 segundos.

Atenção, não se está desmerecendo a importância dos demais serviços audiovisuais e seu forte crescimento nas últimas décadas. O que o Super Bowl e o Desfile comprovam é que a TV está mais viva do que nunca justamente por conta deles. É um circulo virtuoso do qual o cinema também já se beneficiou.

Mas ainda é a pura e velha TV. Espetáculos como esses, assim como sua forma estética de transmissão, não se modificaram substancialmente desde a sua origem, apenas se sofisticaram, oferecendo novos ângulos da mesma coisa. Me lembro quando eu mesmo narrava os desfiles das escolas de Ouro Preto, em Minas Gerais, uma unha da esfinge que é o carnaval do Rio de Janeiro. No entanto, eu também dizia que "a ala representava a aquiescência da entidade mitológica sobre a cultura afro-descendente impregnada do sofrimento da exploração dos escravos do Sec. XVIII", ou seja, só lia o release que a escola de samba enviava sem ter a menor ideia do que era aquilo. Igualzinho os locutores da Globo. E não diferente de assistir o Super Bowl, pois, embora acompanhe já alguns anos, continuo não entendendo patativa.

Pura TV: imagens somadas a verborragia, a velha janela para o mundo do qual vemos, falamos demasiado e temos nenhum controle do que está acontecendo. Mas a bela sensação de que "estamos lá".  


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