Caçadores de Jóias: funcionários públicos e a marca da vilania
Nesse caso dos funcionários públicos impedindo que os Bolsonaros roubassem as jóias da coroa árabe me lembra que povos judaico-cristãos como o nosso adoram criar figuras demoníacas para concentrarmos nossos desejos perversos de punição e, assim, possamos justificar o exercício prazeiroso de nossa violência inata. Um desses vilões é a figura do Funcionário Público, esse ser uniforme, que existiria apenas para sugar nossas escassas energias em prol de uma vida boa regrada com nossos impostos. Não, não nego que têm muito barnabé que tira a gente do sério, mas o caso brilhante mostrou que não são um personagem só e que tem muita gente jóia (bumbo e pratos soam...).
Opa, e tenho lugar de fala! Meus pais foram, ambos, funcionários da mesma Receita Federal por praticamente toda a sua vida, e aposentaram-se lá. Minha mãe foi quem me deu a melhor lição sobre funcionalismo público daquela época: "70% não trabalham e os 30% restantes trabalham em dobro para suprir os colegas". E eu tinha o exemplo em casa: meu pai era o típico funcionário do paletó na cadeira e o jornalzinho na mesa da repartição. E minha mãe era uma temida tigreza alfa, que ralava enormemente, inclusive nas questões sindicais do funcionalismo.
Mas mesmo meu pai teve seus momentos. Teve um período em que ele trabalhava no depósito da alfândega, onde ficavam as coisas apreendidas. Eu, jovem adulto, já apaixonado por tecnologia, aquilo era um paraíso: um enorme galpão escuro entupido de todo tipo de coisa do tipo, a maioria nem existente no arcaico Brasil, e com uma pegada ainda mais excitante, pois tinha o carimbo de proibido e ilegal. Ficava mesmo babando com os equipamentos eletrônicos. E aí meu pai me disse que havia uma lei que garantia a doação facilitada para entidades federais de ensino, caso requisitados. Só que ninguém se dava o trabalho. Deviam fazer parte dos tais 70%.
Estudante de duas dessas escolas, o curso de graduação de comunicação social e o Teatro Universitário da UFMG receberam seus primeiros videocassetes e câmeras de video com a ajuda legal dos Magalhães.
Depois disso, fiquei prestando atenção nessas relações porcentuais entre funcionário público bom e ruim. E entendi mais o macroambiente quando fui ser jornalista no interior e aprendi que, para quem gosta de fazer jornalismo de oposição, o único que existe (sou fiote de Millor Fernandes, "jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados"), o alvo preferencial era o vereador. Tal qual o funcionalismo público, embora tenha uma imagem de um personagem forte, ambos raramente conseguem ter como responder à altura as pedras que lhe são lançadas, tanto porque a estrutura e a operacionalidade públicas são os verdadeiros vilões, como pela própria formação desses funcionários.
Certamente não sou capaz de saber a quanto anda a proporção hoje. Mas continuo assuntando e toda vez que tenho que acionar um serviço público, o lado jornalista sai do armário. Mas mudou muito, não é? A maioria das pessoas que atendem o público agora nem funcionários públicos são: geralmente são empresas terceirizadas de atendimento. Ser funcionário público também deixou de ser passaporte para vida tranquila de estabilidade e bons rendimentos, porque quem é que consegue ser estável ganhando pouco, com salários e benefícios deteriorados (claro, pessoal, estou falando dos 99% da pirâmide, não dos 1% da elite dos poderes executivos, legislativos e judiciários).
Assim, me parece que os serviços públicos que mais se aproximam de uma espécie de exemplo geral são as escolas públicas: continuam tendo uma parcela doidinha por uma brecha na lei para algum benefício e que deixa na mão o contribuinte e o seu colega. Mas se a escola abre e fecha todos os dias é porque tem uma turma majoritária - me parece cada vez mais exausta - querendo devolver à sociedade algo melhor do que recebeu quando assinou o ponto diário. A má notícia é que a performance daquele aparelho público vai depender - como boa parte das entidades judaico-cristãs - daquela/e que eventualmente está no comando, chegados a um cabresto que somos. E, aí sim, sendo uma coordenação legal - em todos os sentidos - acontecerá uma briga feroz, com tigres e trigrezas alfas, contra um estrutura operacional-política-demoníaca que são como hienas arrancando suas carnes e rindo perversamente.
Exemplos como os das jóias da Nação que iriam para mãos pouco republicanas, e marcadas, não pelo carimbo de proibidas, mas de propina, estancado por funcionários públicos, me remete as faixas que as escolas públicas que parabenizam seus alunos regulares e do EJA pela pontuação no ENEM, entrada em cursos técnicos federais e faculdades.
Pois é, Gente entregando melhor do recebem.
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