70 Anos da TV Brasileira: Outras Telas - Episódio #9 - TVs Sindicais
Trabalhadores e Patrões fazendo TV |
O Brasil tem um belo histórico de mobilizações sociais, e uma importante parte dele vem dos sindicatos dos trabalhadores. Conforme vimos nos episódios anteriores, a televisão brasileira, ao comemorar seus 70 anos, não deve se ater somente aos documentários que enaltece as TVs comerciais e estatais, mas a sua diversidade que reflete a diversidade de nossa cultura e vida social e que aparece na quantidade de tipos de televisão que temos por aí. Mas o sindicalismo e outros movimentos sociais não se apropriaram do veículo nesse período. Ainda assim, há caso emblemáticos que deveria servir de exemplos multiplicadores.
Confesso que tenho pouco a testemunhar sobre as TVs sindicais e de movimentos sociais. Mas conversando aqui e ali, e fazendo pesquisas exploratórias na rede, e resgatando memórias e suas impressões, estou entre acreditar que, realmente, desconheço a existência dessas TVs e, bem, afinal não há muito o que descobrir.
O maior expoente, no entanto, é a conhecida Rede TVT (imagino que a sigla remeta a uma espécie de 'TV dos Trabalhadores', mas em seu site e videos promocionais não há qualquer menção ao significado). É uma emissora educativa ligada a uma fundação sem fins lucrativos mantida pelos Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região. É uma bela TV: tem o pacote completo, com sinal aberto na grande São Paulo, transmite via satélite, está no cabo e internet e tem parcerias com diversas emissoras pelo país, com troca de programação.
A TVT tem uma programação diversa, mas, obviamente, com uma pegada social. Mas não se mostra panfletária e se oferece como alternativa de emissora, como deve ser. Seria um exemplo a ser seguido por outros sindicatos, ou consórcios deles, mas que não aconteceu. Tenho forte desconfiança que o mesmo movimento que alçou o Presidente Lula ao Executivo, e que permitiu destravar uma TVT, para que ela pudesse estar no ar, foi o mesmo movimento que desmobilizou o sindicalismo brasileiro, que se acomodou - propositalmente, por preguiça ou foi conduzido a isso!
Fato é que a TVT ficou praticamente sozinha dentro deste formato mais abrangente (pelo o que conheço e se, querido/a leitor/a souber de outra, por favor, me avise que corrijo rapidamente). Já no YouTube, com uma busca rápida, descobre-se poucas, mas boas iniciativas, como a TV Bancários, do sindicato de Brasília e seus dois mil inscritos, a Metal TV,
ótimo nome para um canal de rock pesado, mas representa os
trabalhadores da indústria e tem mais de três mil inscritos e a TV Son - Sindicatos OnLine, com menos de um ano e ainda desconhecida, dado o pouco número de inscritos no canal. Há outros,
mas são poeira perto dos mais de 16 mil sindicatos no Brasil. Pouco tem a ver com a variedade da TVT, mas seus videos são importantes para o movimento sindical.
Do movimento social raiz, há menos ainda. Não achei uma TV MST e mesmo a UNE mantêm um canal no YouTube, mas sem denominá-la como TV. Desconfio que a grande birra que seus militantes têm das emissoras comerciais, dado o tratamento desequilibrado que dão às suas organizações (isso durante todas as sete décadas de existência no Brasil), tenha contaminado o olhar para o veículo, a ponto de não quererem usar um bom carro porque o trânsito é ruim. Da minha parte, acredito que é um desperdício, e a turma da TVT parece concordar comigo.
Do outro lado do espectro, o dos patrões, o exemplo da SescTV, de São Paulo, também é igualmente isolado. Iniciada como TV Senac, que tinha mais uma pegada de formação, rapidamente se adaptou ao novo mundo da TV a cabo, um público que, certamente, era seu alvo, as classes A e B. É um pessoal que a turma do Sistema S já vinha investindo em diversas atividades culturais, como administração de espaços, patrocínios de grupos artísticos e até mesmo cursos no segmento. Portanto, naturalmente, sua programação voltou-se para esse tipo de conteúdo. Num momento de pioneirismo, havia uma carência enorme de bons programas para os novos canais que surgiam na TV paga e a SescTV oferecia graciosamente para quem quisesse completar sua grade de programação. Principalmente nos canais de livre acesso (universitárias, comunitárias, educativas), mas não só (em emissoras educativas abertas também lá estavam). Sem qualquer problema: eram, e ainda são, ótimos programas, que antecederam canais especializados em cultura e arte. Foram e são aceitos de bom grado.
Por fim, repito: há ainda um grande desperdício para o uso da ideia de televisão por parte dos movimentos sociais e sindicais. Talvez seja o lugar onde a discriminação ao veículo seja mais forte do que reconhecer as qualidades do produto de comunicação social. Mas, bons exemplos, como o que citamos, mais outras outsiders como o da TV Restinga, do Centro Cultural e Social do Extremo Sul de Porto Alegre, pipocam aqui e ali. Deveríamos ter uma maneira de socializarmos mais as suas experiências e resultados, a fim de que outras surgissem com o mesmo propósito. O glamour dos 70 anos da TV brasileira, com foco na história da TV comercial, não ajuda nesse engajamento, mas isso não impede de sonharmos e continuarmos contando e insistindo nessas alternativas.
No próximo episódio...
No último episódio da série, uma história pessoal. Mas também um exemplo de como, para se fazer TV brasileira, nem precisa estar no Brasil. Vou te apresentar o Brasil com S!
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