Intercom: nossa espeto de pau.
Nesta data, estou no XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, o Intercom. Adoro o nome, pois deixa claro que a interdisciplinariedade é o mote transversal e, portanto, explicita o caráter verdadeiro da comunicação, o de "nos colocar em comum".
Mas tenho sentimentos conflitantes sobre ele. Boas e más confluências.
Vamos, primeiro, as boas.
É onde nosso campo de conhecimento sem encontra, não resta dúvida. Imagine debatendo por três décadas um campo que não é exatamente capa da Superinteressante e que conta com desconfiança ideológica de todos os lados? Ainda assim, é um evento grandioso. É o maior da América Latina, embora já tenha cruzado essa fronteira há tempos, com a presença de convidados e congressistas de todo o mundo. Este ano, por exemplo, vai de um ciclo especial com a África até um colóquio com a Alemanha.
O Intercom ficou tão grande e complexo que se desdobra em eventos regionais que, até onde sei, repetem o sucesso do evento nacional.
Essa edição de 2013, que acontece na Universidade Fedral do Amazonas, tem mais de dois mil inscritos, 60 atividades acontecendo simultâneamente (grupos de trabalho, oficinas, mini-curso colóquios e debates.), cerca de 60 oficinas e mini-cursos, 300 volutários (acadêmicos de comunicação da região e do Brasil). São 45 grupos de trabalho com centenas de trabalhos escritos e apresentados por professores e estudantes.
A coisa ruim é que não vejo o nosso próprio segmento se apropriando inteiramente do Intercom. É a velha história do espeto de pau na casa de ferreiro. Somos ruins demais em fazer divulgação científica e social de nosso próprio campo de conhecimento.
Percebo que poucas escolas de comunicação dão a verdadeira importância ao Intercom. Não entendo isso. Deveria ser o ápice do conhecimento gerado por aquela escola, os melhores trabalhos acadêmicos, os trabalhos de finais de curso, a pesquisa realizada pelos seus professores. O número de trabalhos apresentados na Intercom deveria servir como referencial tanto acadêmico como mercadológico. Afinal, é o principal congresso de nossa área atestando a qualidade de sua produção acadêmica.
É um desperdicio também no quesito relação escola com seus alunos e professores. Quem participa percebe a empolgação dos estudantes e dos professores na defesa de seus artigos e de seus trabalhos. Não é para menos, afinal, dedicaram uma parte importante de sua energia mental e física, seu tempo, sua disposição e sua motivação. Ser reconhecido e poder mostrar o que faz de melhor são necessidades inerentes da raça humana e ainda mais deste sujeito que trabalha com comunicação. Assim, no mínimo, se apresentar na Intercom transmite a sensação de que aquele curso em que ele está faz sentido. Não é essa essência que buscamos na sala de aula?
Me parece um sinal de que as escolas têm uma preocupação curricular e institucional mais voltada a formação do técnico em comunicação do que o comunicólogo. Bom, nem preciso dizer como isso é sinistro, a formação daqueles que vão administrar e fornecer o bem mais precioso de nossos tempo, a informação, apenas a partir de sua operacionalidade, e não pensar em todos os aspectos humanistas que deveriam cercar tais atividades.
A valorização de eventos como a Intercom acontece em outras áreas, como saúde, direito, física. Essa valorização do campo se reflete no próximo passo da divulgação científica, aquele onde os trabalhos saltam para as pautas da redação leiga. Aquela reportagem no Fantástico ou a pesquisa divulgada na Superinteressante. na grande maioria das vezes, passou por um dos eventos principais da área antes de se oferecer cidadão leigo.
Claro, tem sempre a choradeira que "a mídia capitalista dominada pelos detendores do poder midiático" é que não nos permite aparecer. Bem, pelo que vejo nos Intercoms, também parece que não fazemos nossa parte.
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