Serviço Civil Obrigatório para egressos de públicas: solução para crise na saúde?

Freerangestock
Está estabelecida a briga entre médicos, ministérios da saúde e educação. Faltam ou não faltam médicos para os brasileiros? Uai, até recentemente não tinha excesso de escolas e o MEC ameaçou cortar vagas? Por outro lado, não faltam pediatras até em consultórios particulares? Daquelas questões em que, ao que parece, todo mundo tem razão. 
 
Mas o que nos interessa aqui refere-se a algo indiscutível: contribuição social que todos devem retornar à sociedade. Está, no mínimo, em todos os juramentos de formaturas!
 
Sabem aqueles médicos que o contribuinte e a sociedade, através dos (enormes) impostos, formam em suas instituições de ensino superior públicas? Que retorno dão àqueles que bancaram seus estudos? Até onde sei, vão direto para seus consultores particulares ou para seus concursos públicos e privados, passando a régua no passivo social e olhando só para o seu futuro particular. 

Tal assunto é incentivado pela coluna da editora Ruth Aquino, da revista Época, desta semana. A editora resgata uma proposta antiga, a do serviço civil obrigatório, substituindo o militar. A proposta é um bom ponto inicial de debate, mas, particularmente, não gosto de nada obrigatório quando não há uma contrapartida clara e que beneficie a cidadania (por exemplo, voto obrigatório e serviço militar). No meu ponto de vista, um serviço civil obrigatório me lembra ditaduras (de direita e de esquerda) que obrigam ao cidadão a não só compartilhar seu ponto de vista do que seria cidadania e participação social (afinal, seria o Estado a escolher onde e como trabalhar em prol da sociedade), como o coloca em trabalhos forçados para incorporar sua ideologia. Além disso, sabemos que tal serviço - assim como o militar - estaria sujeito a mais uma estratificação social. Os filhos dos ricos conseguiram se safar - por influência política ou pagando suborno - e sobraria para os mais pobres - justamente aqueles que deveriam ser alvo do tal serviço. 
 
Agrego a essa opinião ao fato de que já temos um serviço civil obrigatório bastante oneroso para todos nós, que é a altíssima taxa de impostos que temos - sem a tal contrapartida equivalente -, o que nos obriga a trabalharmos cinco meses em um ano para pagar impostos. Quer serviço civil obrigatório maior que esse?

No entanto, minha opinião é que o serviço civil devia ser mesmo obrigatório para aqueles que se formam em instituições de ensino públicas. Um novo médico é bancado pelo contribuínte por, quanto, seis, oito, dez anos? Pega seu diploma e vai ganhar dinheiro nos consultórios e hospitais privados. Engenheiros, enfermeiros, psicólogos etc, estão na mesma benesse. 

Imagine se todos aqueles que estudaram em universidades federais e estaduais tivessem que dar tal retorno por, sei lá, o equivalente apenas 20% da carga horária paga pelo contribuinte? Quantas horas de serviço daria isso? Ah, não concorda com essa obrigatoriedade? Tudo bem, vá fazer um curso particular e não explore meu suado imposto para garantir o seu sucesso particular e financeiro de amanhã!

Sou filho de mãe e pai funcionários públicos federais. Minha mãe trabalhava em um projeto nos anos 70 chamado "Contribuinte do Futuro" que tinha como objetivo ensinar o que era e para que serviam os impostos em geral e o imposto de renda em particular.


Formiga e o Compadre Tatu do "Contribuinte do Futuro". D. Formiga pegava um pedacinho da sua folha para a construção de hospitais, escolas etc. Mas o pedaço da folha não era quase a sua metade!

Fui cobaia da minha mãe, que testava o material didático comigo. Sou, ainda assim e como a maioria, revoltado com o imposto de renda. Mas, ao passar 10 anos dentro da UFMG (graduação, mestrado e doutorado), não sosseguei antes de dar o retorno à sociedade que me bancou. Assim, trabalhei voluntariamente em uma entidade que luta por uma comunicação verdadeiramente pública e educativa durante 12 anos, a ABTU, onde ainda continuo como conselheiro voluntário. A intenção não é me vangloriar, mas apenas não parecer demagogo na proposta.

Que tal governo, escolas e médicos pensarem mais em quem paga e menos em quem vai pagar para  tentar resolver seus problemas estruturais?
 

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