Inteligência Artificial é ameaça às Artes?
Nos anos 1970, o terror dos roqueiros era o sintetizador! Bandas como o Queen, de Freddie Mercury, acreditavam que o aparelho - capaz de imitar qualquer instrumento - tiraria a essência criativa dos artistas e suas guitarras, pianos, baterias... Sabemos o que veio depois: galera caiu de cabeça na nova tecnologia (e nas seguintes...) e o rock eletrônico elevou o estilo a inúmeras alturas, fazendo sujeitos como Mercury explodir em criatividade (vide Bohemian Rhapsody). Isso mesmo, a Inteligência Artificial é o novo sintetizador das artes (todas, inclusive), e está batendo o horror na turma. Não sem completa razão, mas a História das Artes mostra que as novas tecnologias chegam mais para expandir nossa criatividade artística, mesmo que para isso também pasteurize a mediocridade. Fazer o quê? Vamos de Villa-Lobos a Tiririca na mesma Humanidade!
Estou escrevendo inspirado no ótimo papo na Casa dos Quadrinhos (@casadosquadrinhos), capitaneado pelo seu diretor Cristiano Seixas, o seu coordenador pedagógico Régis Luiz, e os advogados especialistas em direitos autorais digitais Laiana Fantini e Yuri dos Santos. Algumas conclusões rápidas:
* Parem de brigar contra a tecnologia. Ela não está nem aí para os seus purismo e já está chegando atropelando. Faça como os roqueiros, caia de cabeça, entenda no que ela pode ajudar e, se não quiser fazer uso, beleza, mas pelo menos você sabe com que vai tratar pelo resto da sua vida;
* Vai lá conhecer, coloca no YouTube para aprender, encare softwares como DALL-E2 e Midjourney, têm uma parte gratuita, mas que dá para se divertir bem. Descreva uma cena, um personagem (em inglês), com a maior riqueza de detalhes que quiser, e deixa rodar! No mínimo, é um maravilhoso divertimento o que ela vai interpretar e, ouso dizer, vai estar bem próximo - ou avançar - no que sua cabeça pensou;
* Mas o pulo do gato está no "bem próximo". "Bem próximo" não é no lugar. Então, a IA - como todas as boas IAs - na realidade faz o trabalho 'grosso', em que muitas vezes se perde muito tempo e é puramente mecânico. Cabe ao artista, a partir desse primeiro trabalho bruto, fazer as apurações e acabamentos. E meter o seu estilo e criatividade neste arremate fundamental e final. Mais ou menos como os artistas aprendizes faziam com os grande pintores e escultores da Antiguidade. E, sim, esses "estagiários" tinham que ser inteligentes para entenderem o que o mestre desejava (muitas das vezes, sem nem que ele se expressasse claramente), e se adaptarem ao contexto em que a obra estava sendo criada (era para ser uma obra artística ou para puxar o saco do mecenas?). Como no sintetizador, deixar o trabalho chato e redundante - aquela base da música - para quem tem menos talento e deixa o solo de guitarra para quem é de direito.
* Falando em Direito, também é legal a gente conversar sobre coisas malucas como: uai, se a imagem foi criada pela IA, ela assina? Quem recebe o PIX? E se a obra for acusada de plágio, quem é processado? De acordo com a Laiane e o Yuri, tudo está para ser construído, e o máximo que se pode fazer é pensar em analogias com experiências anteriores. A ideia já parte de confusão, pois as IAs usam como referência tudo que estiver por aí circulando na internet (John Green escreveu uma crônica engraçada dizendo que as IAs teriam muita dificuldade de saber qual o odor das pessoas se baseando só na literatura: para elas, cheiraríamos a lavanda, bálsamo, flores silvestres ao entardecer....). Mas aí as IAs estão tranquilas, já que nenhuma obra parte do zero, e todos os artistas se inspiram em obras anteriores. Vai valer sempre o bom senso ético (ou a falta de) de quem programa a IA e analisa o seu resultado, e de quem se sente usurpado. Será que a Fundação Van Gogh se sente assim quando alguém utiliza o estilo do pintor holandês para refazer sua foto num aplicativo? Se eu usar bandeirinhas de festa junina, a família Alfredo Volpi pode me acusar de plágio? Emoções jurídicas pela frente. Gostei de ver jovens como a Laiane e o Yuri se especializando nisso (@yuridossantosadvocacia). Estudante de Direito, está sem saber no que se especializar: #ficaadica!
* Por fim, IA é uma ótima ferramenta para roteiristas que não sabem desenhar, roteiristas que não sabem desenhar e querem ajudar ao seu ilustrador a entender o que passa na sua cabeça, ilustradores que têm mais o que fazer do que repetir automaticamente cenários, ou queiram novas referências, ideias para aprimorar sua criação. Mas é também campo farto para a produção comercial (a que, em geral, paga as contas) e que cada vez mais exige rapidez: encomendaram, para semana que vem, uma cartilha, uma HQ, um livro ilustrado (e também uma música, um texto, um video, sim, senhores!)? Manda a IA fazer a parte mais cansativa e repetitiva e sai retocando e corrigindo (sim, ainda é preciso muita correção), maximizando seu tempo.
* Vai tirar empregos? Sim, vai! Como todo processo repetitivo, e que não necessita de elaboração criativa humana, a IA vai tomar conta. Vai criar novos empregos? Sim, vai, mas cada vez mais especializados, como programador de IA, curador de conteúdo para IA, professores para uso de IA, advogados de IA. Vai potencializar as artes? Sim, vai, mas para todos os lados, inclusive aquele que você acha ridículo e medíocre (lembrando que uma parcela também pensa assim da nossa arte).
Indo ainda mais para atrás, os livros impressos, quando surgiram, também foram duramente combatidos, porque, temía-se, ninguém mais precisava guardar o conhecimento na memória, bastaria consultar uma publicação. A mente ficaria livre para que o diabo ocupasse. Mal sabiam que a mente livre é justamente o que procuramos a cada invenção de novas tecnologias, para que possamos exercer o nosso verdadeiro potencial enquanto Humanos. Alguns enxergam isso como nossa parte divina.
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