Sete respostas de 2020 e sete perguntas para 2021
Como muito bem definiu um dos meus cronistas preferidos, Antônio Prata, estamos naquela ocasião esquisita do ano, aquela semana entre o Natal e o Réveillon, que a gente não sabe se tem que trabalhar ou está de férias e que ele, acertadamente, ousou chamar de 'períneo do calendário'. Portanto, trata-se de lugar sensível, confuso momento de tabu e prazer, de uma espécie de limbo amoral onde ficamos na dúvida de como agir nesse espaço que liga muita coisa a coisa nenhuma. Por isso, nada de assuntos muito longos e robustos, apenas poucas palavras introdutórias para perscrutar os anos que se vai e que se vem. E, para isso, nada melhor de que uma boa lista, uma que nos ajude a entender, ao mesmo tempo que nos mantêm alertas.
1) Educação Formal - A resposta: duas em uma - sim, a educação do jeito que estava era velha e carcomida; e, não, não é culpa dos professores que, a trancos e barrancos, conseguiram fechar o ano. A pergunta: vamos voltar ao modelo antigo ou repensar a sala de aula a partir das experiências pandêmicas?
2) Educação Informal - A resposta: pais, não é que educar dá trabalho? E a gente brigando com os professores... A educação é, também, um conjunto de relações de pesos e contrapesos, e a família é parte fundamental e que não pode se dar ao luxo de terceirizar suas obrigações. Da mesma maneira, os gestores educacionais, públicos ou privados, devem cobrar de si mesmo a criatividade para resolução de dilemas, o mesmo exercício que costumam cobrar de seus alunos. A pergunta: o que cada uma das partes, escola e pais, vai cobrar um do outro, mas sem se esquecer de cobrar de si mesmo?
3) Políticas Educacionais - A resposta: a aprovação do Fundeb, e todas as celeumas sobre a retomada das aulas presenciais, mostrou que a demanda da Educação é uma necessidade de Estado, e não de governos, por mais que se quisessem politizar partidariamente as questões. E a pandemia mostrou que a resposta do item 1 também será um novo desafio. A pergunta: nas mudanças que a Educação vai sofrer, vai-se aproveitar para implantar o que de mais moderno há na BNCC - Base Nacional Comum Curricular?
4) Tecnologia - A resposta: também já desconfiávamos, mas agora estamos certo de que a tecnologia não é um Deus ex machine, ou seja, o ápice da criação humana que resolve todos os nossos problemas. Ao contrário, como toda criação humana, tem potencial para piorar as coisas e, em 2020, mostrou que, mesmo a busca de uma vacina que beneficiará a todos, pode refletir uma vocação perversa pela desigualdade social. O uso das redes sociais e da internet reforçou essa resposta. A pergunta: desenvolvemos várias vacinas em poucos meses, mostrando também a nossa potencialidade tecnológica para o bem. Vamos manter o ritmo?
5) Comunicação - A resposta: ok, somos muito mais globalizados do que imaginávamos. E isso foi péssimo quanto à disseminação do vírus, mas excelente para a ciência. A pergunta: vamos (re)valorizar a produção científica como saídas para os dilemas mundiais e ratificar a importância do local, sem nacionalismo xenófobos e aventuras despóticas?
6) Comportamento - A resposta: contato físico não é exatamente proximidade afetiva e efetiva, máscara não é frescura de asiático neurótico e podemos consumir supérfluos muito menos do que consumíamos. Isso já era o normal para os mais sensíveis e mais inteligentes. A pergunta: teremos uma mudança comportamental permanente, valorizando o físico apenas quando necessário nas experiências sociais (encontros mais fraternos e menos por obrigação; reuniões corporativas, salas de aula, consumo quando essenciais), trocando o consumismo pelo consumerismo e reforçar a tecnologia de mediação para nos aproximar, não o contrário?
7) Quem manda no pedaço - A resposta: bem, não somos nós. A mãe Natureza, depois de dar dicas durante os últimos anos, perdeu a paciência e deixou claro o quanto nossa espécie está aqui de favor. A pergunta: vamos continuar a tratar a locadora como nossa empregada em condições análogas à escravidão?
A conferir. Enquanto isso, o desejo sincero que tenhamos um 2021 de aplicações dos nossos aprendizados deste ano tão duro, e um caminhar humanitário para novos conhecimentos que vão corrigir problemas que criamos e nos preparem para os vindouros.
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