Cidadania fora das salas de aula

Nós, professores, adoramos discutir sobre cidadania. Ao que tudo indica, apenas na sala dos professores. Na sala de aula mesmo, o assunto não chega na percepção dos alunos, como pode-se constatar na pesquisa da CPM Research noticiada abaixo. O trabalho apenas retrata o que sentimos ao conversar com os alunos. Certamente, não há uma só causa (excesso de conteúdos obrigatórios, falta de formação do docente, receio da política partidária do secretário...). Mas bem que nós poderíamos arriscar mais neste sentido... 

Brasileiro não reconhece escola como instituição importante na formação da cidadania

Por Dandara Tinoco - Jornal O Globo - 20/08/2014

Para entrevistados em pesquisa sobre democracia participativa, família, universidades e mídia contribuem mais para educação cívica

RIO - O brasileiro não reconhece a escola como elemento importante na formação da cidadania. O sistema de educação básica aparece em penúltimo lugar - atrás apenas do Judiciário - em avaliação da contribuição das instituições para formação e disseminação dos valores cívicos feita em pesquisa da CPM Research com 1.110 entrevistados. A família aparece em primeiro lugar, seguida da universidade, da mídia, da polícia e do Ministério Público. O estudo será apresentado nesta quarta-feira no Encontro Internacional do Ciclo Educação para o Futuro, na PUC-SP. Segundo o estudo, feito com habitantes das cinco regiões do país no início deste mês, os brasileiros não admitem ter deficiências na formação sobre o assunto. A maioria se considera cidadão ativo por ter consciência de seus direitos e deveres.
- As manifestações de junho de 2013 mostraram a nossa incapacidade no que diz respeito à cidadania ativa. Cada um saiu de casa com o seu cartaz, dizendo o que era importante para si, mas sem estar organizado. Isso vem de uma falta de formação no ensino básico, que não nos ensina sobre nossos direitos e deveres como cidadãos - avalia Oriana Monarca White, diretora da CPM Research e membro do Núcleo de Estudos de Futuro (NEF) da PUC-SP.

Entre as ações consideradas mais importantes para ser um cidadão ativo, “ensinar as crianças a serem cidadãos ativos desde os primeiros anos da escola” aparece em quinto lugar e “acompanhar o trabalho dos representantes públicos” em nono, atrás, por exemplo, de “ter um CPF”, em sétimo lugar.
Oriana desenvolve pesquisa de pós-doutorado sobre o tema. Ela compara a situação do Brasil com a de outros países como Itália e Espanha, onde o ensino de cidadania ativa é orientado por programas conduzidos pelos ministérios da educação. Durante um mês, a professora aplicou métodos usados por esses países em duas escolas públicas de São Paulo. O projeto envolveu exibição de filme, leitura de contos e fotografia.

- A ideia foi fortalecer alguns preceitos e ensiná-las a se articular na hora de reclamar - conta Oriana.
Duas educadoras italianas, Milva Valentini e Patrizia Bracarda, vão participar do encontro na PUC-SP. Depois de apresentar o projeto de pós-doutorado, em outubro, Oriana pretende enviar propostas sobre o tema para o Ministério da Educação:

- A discussão desse tema nas escolas, desde muito cedo, precisa ser imposta pelo ministério. É incrível que a sociedade civil - através de ONGs, por exemplo - se organize para trabalhar com isso. Mas precisamos de leis tratando do assunto.

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