Descoberta a motivação das passeatas: falta Ritalina no mercado

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Deixei de publicar na última quarta-feira pois fazia uma ampla investigação. Afinal, na efervescência que se encontra a juventude do país, o que meu blog poderia contribuir?

Emanado nas reminiscências do jornalista investigativo que um dia já fui, acreditei que só poderia voltar a escrever se elucidasse, afinal, o que estava ocorrendo com esses jovens e o que isso tinha a ver com os nossos assuntos tratados aqui.

Pois bem, sinto dizer a concorrência que furei a todos e descobri o motivo de tanta agitação: há cinco meses falta Ritalina no mercado! Confirme com o repórter Nícolas Pasinato, do Sul 21.

Para quem não sabe, a Ritalina é nome comercial mais famoso do metilfenidato, medicamento para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Quem não tem filhos em idade escolar, talvez nunca tenha ouvido falar. Mas quem trabalha com crianças com dificuldades de aprendizagem já aprendeu, há um bom tempo, a se acostumar com as menções à TDAH e da Ritalina.  Esse transtorno é, costumeiramente, associado às crianças bagunceiras, muito agitadas ou muito distraídas, que não conseguem prestar atenção e tem comportamentos impulsivos e, bem, no final das contas, aquelas que dão muito trabalho para os pais e as escolas.

Tecnologia em educação não é só informática. A indústria farmacêutica se faz presente, cada vez mais - e infelizmente - nas salas de aula.

Seria cômico, se não fosse trágico. Mas andam mesmo dopando nossas crianças e jovens mais agitados.

Um estudo divulgado pela Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária confirma o aumento de 75% do tratamento em crianças de 6 a 16 anos, entre 2009 e 2011.Os dados são do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC).

Ah, dirá alguns amigos da indústria de remédios (que envolve também médicos coniventes), que o aumento pode significar que aumentou a qualidade do diagnóstico, mesmo levando-se em conta a enorme dificuldade para isso (conforme a Anvisa, "nenhum exame laboratorial confiável prevê esse tipo de problema" e o diagnóstico é baseado em informações nem sempre isentas e desprovidas de sentimentos conflitantes de pais e educadores). Mas, vá lá, com a competência dos médicos em alta, podemos pensar que consegue-se diagnosticar melhor e, assim, melhor tratar nossos diabinhos.

Seria um bom argumento se, na mesma pesquisa, não apontasse a redução do consumo justamente nos meses de férias.

Que beleza, se o menino fica agitado demais ou interessado de menos, o problema não é a educação comportamental vacilante de casa e nem a  educação desinteressante da escola. É a química! Portanto, Ritalina nele! Nas férias, para não atrapalhar a alegria da família, suspende-se a pílula da anti-felicidade.

Vale a leitura da coluna Educação em Debate, da revista Nova Escola, deste mês, com o sugestivo nome "A escola esqueceu que é melhor prevenir do que remediar" de onde tiro a citação da psicanalista francesa Maud Mannoni (1923-1998), em seu livro Educação Impossível, da editora Francisco Alves (só em sebos), ainda em 1988: "Em vez de revolucionar o ensino e sua estrutura, o Ocidente prefere, pelo contrário, remediar os efeitos das anomalias geradas por um ensino inadequado à nossa época. Remediar os efeitos significa, neste caso, encarregar a medicina de responder onde o ensino fracassou". 

Pois é, viciaram nossa juventude no remedinho e, quando faltou no mercado, eles acordaram. Tomara que continue faltando.

PS.: É claro que não podemos ignorar que há crianças e jovens que realmente precisam ser medicadas, em casos graves de TDAH. Mas também todos que trabalham com educação básica já notavam o que a pesquisa da Anvisa só confirmou: o abuso e a busca da solução fácil do metilfanidato passou dos limites.

Comentários

  1. A colega Ediméia Melo deu uma excelente contribuição ao lembrar uma excelente reportagem que diz que, para os franceses, o TDAH é "uma condição médica que tem causas psico-sociais e situacionais. Em vez de tratar os problemas de concentração e de comportamento com drogas, os médicos franceses preferem avaliar o problema subjacente que está causando o sofrimento da criança; não o cérebro da criança, mas o contexto social da criança.": http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/deficit-de-atencao-nas-criancas-francesas.html

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