Pare de olhar seu celular: não somos multitarefas

Você pode estar parando seu raciocínio 80 vezes por dia! O motor não aguenta.... Crédito: pixabay CC0 Public Domain
Quantas vezes você olhou no seu celular hoje? Pode desconsiderar aquelas olhadas para ver as horas. Conte apenas quando teve que desbloquear, porque aí você estava motivado para fazer alguma atividade que exige mais atenção. Então? Chute alto. Umas vinte vezes? Pois saiba que os brasileiros conferem seus celulares 78 vezes em média, por dia. Agora imagine qual seria o desgaste do seu carro se você ligasse e desligasse ele nessa média diária? Você acha que quem é mais forte, seu cérebro ou o sistema de ignição do seu veículo?

Esqueça essa conversa fiada de que somos multitarefas. Nosso cérebro é uma parte de nossa fábrica totalmente desproporcional quanto ao seu custo energético: ocupa 2% da área, mas consome de 20 a 25% da energia. Além disso, se você acredita que ele está ali para você guardar o que de legal você leu para depois usar na entrevista de emprego ou para ficar bem na conversa do bar, esqueça. Apenas 10% do seu funcionamento é para sua parte racional. Ele tem mais o que fazer, manter você vivo, controlando os sistemas respiratório, circular, digestivo, imunológico....

Pensar, portanto, não é a sua prioridade e, assim, quando você presta atenção em alguma coisa de forma racional, está consumindo uma energia desproporcional ao custo benefício imediato. Então, saiba, seu cérebro não estará de bom humor para isso. Imagina se você quiser prestar atenção em duas ou mais coisas ao mesmo tempo? Assim, ele estabeleceu uma regra: uma coisa de cada vez. Você pode até assistir sua novela, tuitando na sua rede social, mas ele estará focado apenas em uma delas, com verdadeira atenção, jogando as outras coisas para um sistema periférico da mesma importância da chuva lá fora. Se algo chamar a sua atenção na TV, do ponto de vista do próprio cérebro do que ele acha que você deve prestar atenção (geralmente a ver com sua sobrevivência no seu meio social), ele desliga seu WhatsApp no seu olhar, para que levante a cabeça e veja o que está rolando. Esse processo pode acontecer em frações de segundos, mas, saiba, é um de cada vez. Com seu correspondente gasto de energia desproporcional.

Portanto, sim, somos multitarefas se uma das tarefas for racional e as outras forem instintivas, ou inconscientes, ou condicionadas, conforme sua visão do que seja o seu comportamento usual.

É como dirigir um carro. Em boa parte, vai no automático. Mas toda a vez que temos que tomar uma decisão diferente do usual, é preciso desligar o piloto automático e gastar um bocado de energia. É a diferença entre o caminho de ida e volta que você faz todo o dia com aquela festa em um bairro que nunca foi e seu GPS não está funcionando. Em qual lugar você vai chegar mais tranquilo, com menor esforço e, portanto, menor gasto de energia?

Se eu parar de escrever esse texto para abrir o meu celular porque ouvi o barulhinho do WhatsApp, é como se eu largasse um caminho predefinido de forma abrupta para pegar uma rua à direita, que eu não sei onde vai dar. Quando eu vir que não vai dar em nada (na melhor das hipóteses, pois posso pegar o caminho do grupo da família e simplesmente parar ou ir para outro lugar totalmente diferente), para retornar ao problema inicial (escrever esse texto), o cérebro tem que gastar uma energia extra para retomar da onde estava, quando não, como nas antigas fitas VHS, ainda voltar um pouquinho para pegar o embalo. A cada vez que ele faz isso, é mais um consumo desproporcional de energia. No carro, a cada mudança de direção que o afasta do caminho original, gasta-se a gasolina, a direção hidráulica, os sistemas elétricos para dar seta, e o sistema de ignição, caso você ainda tenha parado totalmente para entender o WhatsApp e dar prosseguimento, enviando resposta, reencaminhando etc.

Mas, se no automóvel esse gasto fica dividido entre as partes do veículo, o seu cérebro é apenas um. Os desgastes são todos num aparelho só. Agora, imagine fazendo isso quase 80 vezes por dia? Entende porque estamos ficando cada vez mais cansados, embora a tecnologia aparentemente vem para nos deixar mais ociosos? Porque, como tudo que a humanidade faz, da faca ao WhatsApp, utiliza-se para nos aprimorar ou nos angustiar.

O importante é que o cérebro, embora tenha essa preguiça em pensar, é também representante dessas nossas neuroses de gostar dos opostos na mesma proporção. Portanto, ele também é chegado em um desafio e, por isso, nos coloca para pensar. O problema é que isso deveria, para ele, ser apenas no exercício do aprimoramento, e não de uso redundante de energia cara. Ou seja, se eu ficar atendendo o WhatsApp a todo o momento, ao final do dia eu posso até ter acabado de redigir esse texto, mas usaria uma quantidade de energia com tivesse feito cinco textos. Portanto, estarei exausto.

Você anda cansado? Está culpando quem? O trabalho, a família ou a tecnologia? Quanto essa última, antes de jogar pedra, pense que foi você que ligou, e que é possível desligar da tomada ou, mais simples, colocar no silencioso ou fazer log off. Quando acabar o texto, a aula, a reunião, o jogo, o filme, a conversa com a pessoa do lado, a tecnologia ainda estará lá e, aí, pode lhe dar também uma atenção mais plena e mais saudável. Seu cérebro vai agradecer.

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