Candidatos fogem da TV, e não é por conta dos custos

A TV, nos grandes centros, virou problema para políticos em campanha
Crédito: Pixabay CC0 Public Domain

Os candidatos que estão no segundo turno nas eleições estão abrindo mão da propaganda em TV. Só para citar alguns, Belo Horizonte, Recife, São Luís, terão menos tempo de TV por solicitação dos próprios políticos. O tempo de TV, durante as campanhas eleitorais, é um recurso ruidosamente disputado, fazendo com que os partidos negociem - de todas as maneiras - por alguns segundos na tela. Então, porque, agora que estão na reta final, abrem mão do que tanto lutaram anteriormente?

Um bom momento, para discutir, afinal, o tal poder da TV. É mais um sinal de decadência? Pois bem, é preciso analisar, à princípio, sob dois cenários: os grandes centros e as cidades do interior, situações, no meu ponto de vista, completamente díspares.

Quanto aos grandes centros, inicialmente desconfiemos da principal justificativa dos candidatos para a diminuição do tempo: reduzir custos. Não só porque é de praxe que a primeira desculpa que eles dão raramente corresponde ao que efetivamente acontece, como também é de praxe que os políticos em campanha não são exatamente preocupados com esse quesito, haja vista que eles se colocam prioritariamente como guerreiro para ganhar a eleição, depois corre-se atrás de pagar as dívidas...

É claro que houve uma redução significativa de entrada de recursos, mas também houve uma grande redução do tipo de propaganda a ser exibida. O que a tornava mais cara, "montagens, trucagens, computação gráfica, desenhos animados e efeitos especiais", foram proibidas. O objetivo era privilegiar a cara do candidato, sua fala e suas críticas e propostas. Daí, podemos tirar a primeira conclusão: os candidatos não querem se mostrar. Com críticas e propostas mais do que genéricas, tempo de exposição virou aquela estranha sensação de não saber o que fazer com as mãos. Ou, no caso, com o seu rosto.

Soma-se ao simples fato de que a eleição nos médios e grandes centros - como demonstraram as abstenções, votos brancos e nulos - foi clara em quanto o eleitor está de 'saco cheio' da cara dos políticos. Portanto, colocar a sua na TV, assinando abaixo com um crédito de 'político', não parece ser uma boa opção. Está tendo como vantagem a necessidade desses candidatos em gastar mais sola de sapato, pois o contato direto é que irá fazer a diferença. O problema, claro, será o desconhecimento geral sobre o que eles realmente propõe para a cidade.

A falta de interesse nos debates e na propaganda eleitoral do primeiro turno - com até a diminuição das piadas e a eleição de protesto sarcástico de candidatos a vereador esdrúxulos - mostraram o esgotamento da população para a classe política.

Com a abstenção, votos brancos e nulos, os candidatos sabem que não vão ser eleitos pela maioria da população, e tratam apenas de manter seu eleitorado - para aqueles que terminaram na frente e cujo eleitor não precisa de ter mais argumentos - ou ampliar o conhecimento de seu nome - para aqueles candidatos que saem de trás - entre os indecisos menos resistentes, que ainda cogitam em votar em alguém, mas que raramente busca um conjunto de propostas para a cidade, mais voltado para tentar resolver problemas particulares.

Ou seja, literalmente, neste momento, 'colocar a cara a tapa' não é a opção dos candidatos.

Por fim, no caso das médias e grandes cidades, de fato a TV perdeu a importância como principal fonte de informação, que pode ser achava em diversos outros canais, de forma mais rápida e particularizada - tanto para aqueles que buscam argumentos para embasar uma escolha, como para justificar a sua opção já definida. Lembremos que a propaganda na TV pega seu público de assalto, algo que cada vez mais desagrada o telespectador, que está mudando seu hábito de consumir produção televisiva por desejo e não por oportunidade. Neste sentido, a internet se oferece àqueles que querem informações eleitorais a partir da demanda do eleitor, o que torna a comunicação mais direta e menos invasiva. 

Mas, isso só acontece em metade do país. Quanto às cidades pequenas, esse problema é minimizado, já que elas não tem segundo turno. No entanto, quando se analisa a importância da TV, é como se fosse igual aos médios e grandes centros. Ledo engano. Há uma ilusão de que a TV nessas localidades tem pouca importância, pois, ao contrário dos grandes centros, onde os candidatos, com menos oportunidade de encontrar seus eleitores precisam de um veículo de massa para atenuar o problema, lá o corpo-a-corpo é frequente, todo mundo se conhece e o cabo-eleitoral e o boca-a-boca são mais relevantes.

Pois é exatamente o contrário: dada a pertinência de uma TV local - muitas das vezes, sim, a principal fonte de informação audiovisual da cidade - e ainda a importância de "aparecer na TV" que se cultua no imaginário da população, o que se sabe é que as propagandas políticas, os debates e a cobertura das eleições são o reflexo dinâmico da arena política em que a cidade se transforma.

No interior, ainda ganha-se e perde-se eleição pela TV. A internet, que no interior costuma ser um lixo nas suas características técnicas, e deficiente quanto ao tráfego e qualidade de informação, ainda tem que comer muito feijão para tomar o lugar do local, que seja a imprensa, a TV ou o rádio (esse ainda mais poderoso!). Tenho dúvidas se, havendo segundo turno nessas cidades, se os candidatos abririam mão de tal recurso. Afinal, nada como ver o "Cidinho da Seleste" na TV, sendo ele meu candidato ou não.


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