Autonomia da TV Brasil em debate
Participei do debate promovido pela EBC – Empresa Brasil de
Comunicação – “O Modelo Institucional da EBC e as relações com o Governo
Federal” representando a ABTU – Associação Brasileira de Televisão
Universitária.
A nota
da EBC tem uma excelente síntese das contribuições dos conselheiros. No resumo
da ópera, minha percepção é que o Conselho acredita que, se é para ter uma
empresa de comunicação verdadeiramente pública, será necessária maior autonomia
perante o governo. E que a percepção deste mesmo conselho é que a empresa está
caminhando justamente no sentido contrário, cada vez mais dependente da
Secretaria de Comunicação (SECOM) e uma excessiva migração de pessoas ligadas
ao governo para o organograma da entidade.
É uma briga boa em que todos que queremos uma verdadeira
comunicação pública (diferente da estatal) devemos acompanhar e ajudar. Certamente em favor da autonomia.
Mas, como bem lembrado pelo presidente da EBC, Nelson Breve,
antes de mais nada é uma questão de grana. Com recursos ligados diretamente ao
orçamento da União e o não cumprimento da lei que destina parte do FISTEL para
a EBC (porque as empresas de comunicação se recusam a fazê-lo e mantêm a
questão em litígio permanente), nada de autonomia.
Está fora da nota da EBC a participação do público durante a audiência. Em
destaque (como sempre) a posição
do Intervozes, opiniões que compartilhamos. Da nossa parte, defendi
a autonomia da EBC, sua desvinculação político-partidária, mas também um papel
mais atuante do Conselho Curador na defesa do campo público de televisão. Como sempre reivindicamos, enxergamos neste
Conselho Curador da EBC a representação social e política, dada quando da sua
construção no Fórum Nacional de TVs Públicas e sua consolidação na lei de
criação da EBC. Que o Conselho possa nos auxiliar, senão conduzir, na
construção de uma rede de televisão pública não apenas formada pelas emissoras
estatais, mas o conjunto daquelas que visam o interesse público, como as
universitárias, comunitárias e legislativas.
Desde sempre, essa não é uma posição que todos os
conselheiros concordem. O Prof. Murilo Ramos, por exemplo, não é partidário. No
entanto, ele lembrou que, quando sonhada durante o Fórum, a rede de comunicação
pública estava mais para a PBS norte-americana (descentralizada e capilarizada
por inúmeras pequenas emissoras públicas regionais e locais) do que para BBC
inglesa, centralizada em uma só e enorme instituição.
Bem, eu continuo sonhando com uma PBS brasileira, formada
pelas emissoras educativas, universitárias, comunitárias e legislativas, para
contrapor o sistema de meia dúzia de emissoras comerciais cabeça-de-rede. Meu
parco conhecimento jurídico me faz crer e interpretar a lei da EBC como a
empresa capitã deste processo, por mais que alguns conselheiros e partidários
de dentro da empresa joguem essa batata-quente para o alto.
Mas o que sabemos também está refletido na opinião do
conselheiro Daniel Aarão quando disse que acabou a empolgação que o I Fórum e o
Ministério da Cultura criaram para a discussão e o avanço da TV pública. Na
contramão de vários países da América Latina, o próprio governo não quer tratar
esse assunto como prioridade e é um dos primeiros a tentar empurrar para
debaixo do tapete.
E isso é só mais uma atitude de retrocesso neste campo
patrocinado pelo governo, como temos visto nas decisões do Ministério das
Comunicações e Anatel.
Mas esses são assuntos (permanentes) de outras postagens.
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