Medicina e Tecnologia: do Fantástico ao WhatsApp

Aplicativos para detectar câncer de pele. Crédito: Skinvison.com

O terror dos médicos já foi o Fantástico. Eram felizes e não sabiam. Hoje os pacientes chegam pós-graduados em biomedicina. E novos aplicativos e medidores portáteis já fazem o diagnóstico! Mas os médicos serão mais felizes se aproveitarem a onda.

Então, até pouco tempo atrás bastava uma reportagem no domingo à noite, sobre um fantástico novo tratamento, para que os consultórios se enchessem de pacientes cobrando a nova solução que, na maioria das vezes, era só uma manchete descontextualizada de uma pesquisa que ainda iria levar anos para chegar ao paciente comum.

Esse tempo já foi. Agora minha esposa vai ao médico com páginas de anotações, resultante de sua pesquisa na internet, e com uma lista bastante coesa de perguntas coerentes. Particularmente, fiquei aliviado quando vi no computador do médico três abas abertas de publicações internacionais. Ufa! Ele também está aproveitando as benesses da rede mundial de informação.

Para melhorar (de forma alguma é para piorar, informação é demais quando não tratada), uma série de aplicativos e equipamentos portáteis criaram um laboratório particular: dá para saber como está a glicose hoje, um mapa cronológico do meu ritmo cardíaco e aeróbico, ganho ou perda do peso sistematizada, para falar dos modelos mais simples. Lentes no celular o transforma em microscópio, e logaritmos podem fazer exames de sangue!

Associando isso à internet, o médico pode receber automaticamente e/ou seus dados estarem permanentemente nas nuvens para consultas.

A revolução já começou e ela é boa. Paramos de perturbar nosso pediatra com telefonemas que são constrangedores para nós porque, muitas das vezes, é fora de hora para o médico e, provavelmente, é uma bobagem neurótica dos pais. Pois bem, o WhatsApp tem resolvido bem boa parte das questões. Ao enviar a mensagem, resolvemos nossa ansiedade, aguardamos o melhor momento que o médico tem para responder (entre uma consulta, depois de sair do trânsito ou de um evento) e recebemos as palavras tranquilizadoras do tipo "é uma virose e se a febre não passar em três dias leve no posto médico". Recentemente, nosso filho empolou e mandamos uma foto. Ele nos tranquilizou, dizendo o que era e receitando as medidas necessárias. Houve até um caso mais grave, uma intoxicação barra pesada e, para piorar, em outro Estado. Por WhatsApp, ele nos orientou e, rapidamente, o garoto ficou bom. Imagine o nosso alívio.

Já tem aplicativos que conseguem dar, com uma razoável margem de acertos, uma ideia se aquela mancha pode ser um câncer de pele. É certo que o olho do médico é definidor, mas se o programa acender uma luz de alerta, esse paciente correrá mais cedo ao consultório.

Tais avanços tecnológicos são ainda mais importantes para a saúde social. Imagine as enormes vantagens para lugares afastados, sem médicos próximos, em regiões epidêmicas. Drones já fazem a entrega de medicamentos em regiões isoladas.

É óbvio que tudo isso não substitui a necessidade do presencial. Mas convenhamos que facilita a vida da gente e, acredito, também do médico. E nem acho que ele perde dinheiro. Nos planos de saúde, onde menos se recebe é na consulta. Portanto, se o atendimento for de pacientes que realmente precisam (e não só um receituário de antigripal), se maximizará o tempo, esse sim um recurso valioso. 

O problema para os médicos é se atualizar tecnologicamente também, e perder o medo de se incorporar às novas tecnologias. Mas é um caminho natural: sabemos, como pacientes, que a dependência tecnológica na medicina já está em estado avançado, pela quantidade de exames que fazemos para detectar uma sinusite.

Portanto, agora é chamar os aplicativos e os equipamentos portáteis para o jogo, e os médicos, assim como faziam com o Fantástico, ajudarem os pacientes a separar o joio do trigo. Claro, para isso, eles devem entender um pouco dessa cibercultura. Que tal uma disciplina de novas tecnologias portáteis de diagnósticos associadas à internet nos cursos de medicina? Poderiam preparar os médicos para esses novos tempos e, quem sabe, incentivá-los a fazerem suas próprias startups!

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