Como um email mudou o mundo há 50 anos!
Já defendi aqui o quanto a pisada da humanidade na Lua foi importante, ao mesmo tempo que desprezada. Mas não é possivel nem brincar de comparar. Afinal, os astronautas foram só mais cinco vezes no nosso satélite, encerrando as atividades turísticas cósmicas em 1972. Já a Internet, convenhamos, dominou o mundo neste tempo. Ou melhor, as pessoas sobre ele. E não deixo de ficar impressionado: foram só 50 anos! Quantas gerações a agricultura, a revolução industrial, a eletricidade levaram para conquistar o mundo? Já essas cinco décadas, eu as vivi inteiramente para vê-las. Obrigado turma de militares, universitários e comunidade livre de tecnologia da informação (TI).
Parte histórica rápida: em outubro de 1969, um estudande de programação (sempre um!) mandou uma mensagem teste para o seu professor com duas letras (na realidade, ele queria enviar mais, mas o sistema fez aquilo que parece que seria também uma das suas características mais personalísticas: o programa travou!). Não importa, surgia ali o Arpanet, o pai da Internet! E olha a beleza da velocidade do troço: boa parte da turma ainda está aí para contar a história!
Adoro a internet! Mas é além dos motivos óbvios de quem estuda e faz pesquisa (ah, a Barsa, que nem a adolescência... época boa, mas ainda bem que já passou e está bem longe no passado). A Internet, assim como a pedra lascada, a agricultura, a retórica, a escrita, a eletricidade, é das grandes invenções humanas que revoluciona o modo de vida da Humanidade inteira a partir de umas poucas iniciativas de quem tinha o que fazer, mas quis fazer diferente. E nelas estão contidas todas as idiossincrasias do que é ser humano.
Acho que já escrevi por aqui o quanto fiquei feliz em saber que aprendemos a fazer cerveja bem antes de aprender a escrever. Vê se isso não diz muito sobre nós mesmos?
Então, voltando a Internet, além da rapidez da evolução, é sempre bom lembrar que ela foi construída por espíritos que representam bem a gente: militares (que refletem nossa relação orgânica com a violência), universidade (nossa ansiosa e incansável busca pelo conhecimento) e os nerds meio hippies da comunidade livre de TI (que revelam nosso desejo pelo indomável, ou a busca romântica de uma liberdade utópica).
Não é lindo isso? O que temos de melhor e pior são o que conduz nossos avanços tecnológicos, e quando apenas uma dessas características se sobrepõe as demais, a coisa desanda. Guerra, fome, desigualdade social, são algumas das nossas mazelas onde nossa natureza violenta não entrou em acordo com nossa necessidade de conhecimento e nem nosso desejo de liberdade.
A Internet tem tomado seus trancos, mas ainda permanece com aquela pegada de descentralização da informação, do constante desenvolvimento teórico e prático e da sua oferta a mais ampla possível, cada um desses objetivos o objetivo específico que cada segmento intelectual trouxe para a mesa de trabalho primordial.
Ada Lovelace, visionária da tecnologia |
Gosto de lembrar da minha programadora preferida, Ada Lovelace (1815-1852) (fantástica mulher, primeira pessoa a escrever programação antes mesmo do computador existir....). Ela disse em 1843 que temos todo um deslumbramento com a tecnologia quando ela surge, superestimando-a o que achamos ser incrível, mas, ao acompanhar a história do aparato, após essa encantamento inicial, o troço acaba nos mostrando o quanto substimamos o seu valor verdadeiro.
A Internet, uma vez mais, mostra essa nossa característica. Quando surgiu, acreditávamos que, finalmente, chegara ao fim os oligopólios das marcas que, na sua essência, mais do que capital, concentrava conhecimento. O que, enfim, era o que proporcionava o poder sobre todos os demais. Ora, se o conhecimento está ofertado a todos, por seus computadores pessoais, bye, bye, grandes empresas e finalmente teremos a diluição do poder. Ora, ora, ora, não foi preciso as cinco décadas para desvendarmos nosso deslumbramento e nos descobrirmos nas mãos de outras meia dúzia de grandes empresas determinando nossas vidas.
Mas, por outro lado, o verdadeiro valor que havia ali e não enxergávamos era a descentralização das relações humanas, a troca de conhecimento e a liberdade que as comunicações pessoais atingiriram. Nem nos seus mais românticos sonhos, os criadores da internet pensavam em programas, sites e aplicativos que iriam aproximar e reaproximar as pessoas no nível pessoal como éramos ainda na época das tribos. E que essa aproximação levaria à crise as instituições, representativas ou não, tão ardua e históricamente construídas, a ponto de redefinir desde a tão consolidada sociedade de consumo como os processos decisórios políticos, como as eleições ou mesmo as ditaduras.
E certamente, muitas vezes, infelizmente, demonstrar outros aspectos não tão nobres assim de nossa natureza humana. Mas, vá lá, como em toda tecnologia revolucionária, tais aspectos também lá estão presentes. E é por isso que o atual estado da Internet não é garantido. A agricultura, por exemplo, já demonstrou isso há um bom tempo: se produz hoje muito mais do que a Humanidade precisa para se sustentar, mas nem por isso milhares deixam de passar fome.
Ainda mantenho uma certa fé. A caixa de Pandora, uma metáfora que sempre admirei sobre o uso da tecnologia pela Humanidade, de fato tem o potencial de espalhar todo tipo de mal pelo mundo. Mas guarda, no seu fundo, aquela que seria a sua principal bugiganga, aquele que daria conta de todas as demais: a esperança.
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